Sai desse quarto, menino!

Parafraseando o Sr. "Dicio", a significação de quarto faz parte de uma divisão de habitação onde geralmente se usa do tal ambiente para repousar-se. (Ou seja, tirar aquele ronco). Mas vocês sabiam que se conjugado na posição de Verbo Transitivo (quartar) ele traz o significado de sair da linha num combate de esgrima. E na posição de Intransitivo retrata o ato de Juntar (quatro farinhas) para fazer o pão quartado. Mesmo através da mania de significação presente no cotidiano de um letrando (opa!), o quarto me surpreendeu pelas suas inúmeras variantes.

Sair da linha, num combate de esgrima.

"quarto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/quarto [consultado em 26-01-2016].

Sair da linha, num combate de esgrima.

"quarto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/quarto [consultado em 26-01-2016].

Sair da linha, num combate de esgrima.

"quarto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/quarto [consultado em 26-01-2016].

Mas será mesmo que esse cômodo da casa só teria serventia para o repouso? Vários estudos já comprovaram que o sono é extremamente necessário na vida de um ser existente, por influencias principalmente em questões psicológicas e físicas. Porém, ao contrário do que muitos pensam, o quarto não serve apenas para o sono; o quarto nada mais é que um completo refúgio,  pronto pra lhe acolher e resgatar das durezas da vida; pronto para lhe satisfazer e proporcionar o desejos carnais mais reprimidos ao longo do dia; prontos para refletir sobre os momentos perdidos e remexer nas dores mais intrínsecas.

Perdi as contas do quanto afoguei as mágoas naquele quarto, do quanto sofri e chorei ali, por mais difícil que fosse já que, até pouco tempo, o meu não era só meu. Tantos desprazeres deixei guardados naquele cômodo, que ainda hoje, no retorno do trabalho, acabo encontrando alguns na gaveta do armário. Mas eu os guardo com orgulho, gosto de rever o que um dia eu fui, para concretizar o que serei a partir de hoje. Ah, meu querido quarto, tantos momentos passados juntos, que em você recordo, também, os mais felizes.

No meu quarto eu me perco e me encontro. No quarto eu me revejo, me recomponho; me ajudo e me distraio. Naquele quarto eu me destruo e me refaço. Mas foi naquele doce embaraço que me fiz gente. E Minha mãe? Não compreende, vive gritando da sala: "Sai desse quarto, menino!" E eu só viro pro lado, me agarro ao travesseiro e curto a minha balada do eu sozinho.

Às paredes que um dia me ampararam no silêncio, dedico gentilmente esse registro acima.

Texto: João Oliveira